Trajo do Monte Real – Leiria | Estremadura

Trajo do Monte Real

Na descrição do tipo de vestuário de Monte Real, temos sucessivamente de considerar o dos homens, o das mulheres e o das crianças.

1.- Homens:

No trajo dos homens devemos ainda distinguir o fato do domingo e o fato da semana.

a) O trajo do domingo consta geralmente de um fato de cotim preto, formado por um casaco curto com os cantos arredondados; por um colete com gola, deixando ver a camisa, quase sempre de riscado, com um colarinho estreito com os cantos arredondados, onde às vezes se nota uma gravata de cores berrantes; e por umas calças com a forma de boca de sino.

O calçado é, em geral, constituído por sapatos de prateleira ou de meia prateleira, e mais raras vezes por botins, usados em geral pelos que são remediados. As meias usam-se ainda pouco. Para a cabeça têm um chapéu de abas largas, a que dão o pomposo nome de chapéu fino.

Trazem ainda, ao domingo, grandes correntes de prata ou de ouro, às vezes com um cornicho, e também cordões de libras, que prendem de um lado um relógio metido dentro de uma bolsa de lã com borlas, e do outro, por vezes, um pequeno espelho. Para as costas têm, quando remediados, uma capa preta, mas que só usam em ocasiões solenes.

b) O trajo da semana é muito mais simples do que o que acabamos de descrever. Em geral, ainda em mangas de camisa, isto é, sem casaco, e apenas com umas alças velhas arregaçadas, ou umas ceroulas de ganga, ou de pano cru, curtas e largas. Sempre descalços; trazem no Inverno um barrete na cabeça, e no Verão às vezes um chapéu velho.

2.- Mulheres:

O vestuário das mulheres é constituído, em Monte Real,

– por blusas ou batinés com mangas compridas e de abotoar ao lado;

– por saias de chita ou estamenha, franzidas junto a um cós largo e com barras de ganga de assento preto e olhos amarelos, frequentemente alteadas com um cordel tecido com algodão de várias cores e com maçanetas nas extremidades;

– por aventais de riscado escuro; por canos para as pernas, usados mesmo no rigor do Verão.

Geralmente andam descalças e só nas ocasiões solenes deixam ver uns sapatos pretos e umas meias pretas ou da cor do vinho.

Na cabeça nota-se-lhes quase sempre um lenço encarnado, atado de modo a poderem colocar-se as suas pontas num chapéu preto, de forma arredondada, como no Minho, enfeitado com um penacho preto e penas de várias cores, fixas numa conta dourada.

Nas abas do chapéu, encontra-se quase sempre um lenço branco, muito bem dobrado.

Para as costas têm, em harmonia com as posses, saias de estamenha, de castorinha ou beata, e também já xailes.

Nas orelhas luzem botões de ouro; ao pescoço uma medalha, e nos dedos anéis de prata ou de chumbo.

Aos domingos, quando as posses o permitem, trazem cordões aparelhados com libras, medalhas, cruzes e, às vezes, corações, que noutros tempos teriam servido de amuleto e cuja significação se perdeu.

3.- Crianças:

As crianças até aos três anos usam apenas umas botas que lhes deixam à mostra parte das pernas, e andam em gadelhe (em cabelo).

Ao pescoço trazem, por vezes, bentos e amuletos.

Depois, até aos cinco anos, passam a usar um barrete na cabeça, umas calças abertas, mas já com bolsos, e andam vulgarmente em mangas de camisa, a não ser aos domingos, em que trazem umas blusas de cor ou camisolas azuladas ou verdes, andando descalças até mesmo nesses dias.

Depois desta idade, o trajo das crianças começa a assemelhar-se ao dos adultos.

Extractos de um estudo sobre o trajo do Monte Real (concelho de Leiria), feito por Manuel Domingues Heleno Júnior, estudante da Faculdades de Letras de Lisboa, datado de Maio de 1917.

Fonte: “ETNOGRAFIA PORTUGUESA” – Livro III – José Leite de Vasconcelos

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